A Perspectiva Sociológica

01/12/2013 16:14

Por: José Carlos de A. Cardoso

 

 

 

 

O Homem na Sociedade

    A criança se surpreende ao perceber que pode se localizar e ser localizado por meio de coordenadas como latitude e longitude. Aprende a se localizar na sociedade, isto é, o pode fazer, o que pode esperar da vida. ”A criança sadia é aquela que acredita no que está registrado em sua ficha escolar. O adulto normal é aquele que vive dentro das coordenadas que lhe foram atribuídas” (p. 79). A pessoa passa a agir na sociedade conforme um código estabelecido de poder e prestígio.

      A sociedade se utiliza de vários meios para controlar seus membros quando não atuam de acordo com o código pré-estabelecido. Esses meios variam de acordo com a finalidade e o grupo em questão, que pode ser eliminar os membros indesejáveis. A violência, a pressão econômica são uns dos meios utilizados no controle social. “A violência é o alicerce supremo de qualquer ordem política” (p. 82).

      Como mecanismos de controle em grupos humanos são também utilizados persuasão, ridículo, difamação e opróbrio. A persuasão age em se seguir a decisão da maioria. “O ridículo e a difamação são instrumentos potentes de controle social em grupos primários de todas as espécies.” (p. 85). Muitas pessoas conduzem suas vidas preocupadas com a visão dos seus vizinhos sobre suas condutas. O opróbrio é a pior das punições, pois isola do grupo, o indivíduo que quebra as regras estabelecidas.

      A moralidade, os costumes e as convenções sociais são controles exercidos sobre a pessoa individualmente. Há sanções para a imoralidade, a excentricidade ou o anticonvencionalismo, que levam o transgressor a perda do emprego, o isola de seus semelhantes ou ainda passam a considerá-los sem uma sanidade mental perfeita, sem esquecer-se das ações policiais que arrastam as pessoas ao prendê-las.

      Há ainda os controles informais impostos por colegas de profissão, de trabalho, como também no círculo familiar e dos amigos.

      A estratificação social, sistema de hierarquia da sociedade, pode contribuir para se entender a localização na sociedade. Os diferentes níveis determinam as diferentes posições dos indivíduos num mesmo grupo social. “O tipo de estratificação mais importante na sociedade ocidental contemporânea é o sistema de classes.” (p. 92). Nesse sistema há mobilidade social, onde uma pessoa de uma camada pode mudar de posição. Apesar de que: “As diferentes classes de nossa sociedade não só vivem de maneira diferente quantitativamente, como também vivem em estilos diferentes qualitativamente.” (p.93). Um outro sistema de estratificação, mais cruel é o sistema racial.

      A perspectiva sociológica apresentada conduz-nos a considerar a sociedade como uma enorme prisão, pela opressão que e3xerce sobre o indivíduo. “O pensamento sociológico que se aproxima dessa concepção da sociedade é o associado a Émile Durkheim à sua escola. Durkheim ressaltava que a sociedade é um fenômeno sui generis, isto é, ele representa uma realidade compacta que não pode ser reduzida a outros termos ou para eles traduzida.” (p. 104).              

A sociedade no Homem

      A sociedade não pode ser vista como uma entidade que pressiona e coage o indivíduo. Isso pode ser visualizado no conhecimento da sociedade e na sua  analise sociológica. “A sociedade determina não só o que fazemos, como também o que somos” (p. 107). Porque sempre queremos desempenhar o papel que a sociedade atribui a nós, obedecer as regas estabelecidas por ela.

       Na teoria do papel a sociedade é quem determina o que cada um individuo faz realizar, a identidade individual é atribuída a cada um. Cada personagem deve agir seguindo o planejado. Cada papel conduz a uma identidade peculiar ao papel. “ A criança descobre quem ela é ao aprender o que é a sociedade. Aprende a desempenhar os papéis que lhe são adequados, ao aprender a assumir o papel do outro” (p. 112).

      Cada indivíduo não nasce com sua identidade, ela é atribuída pela sociedade em atos de reconhecimento social, quando nos tornamos aquilo que os outros crêem que somos. A identidade é atribuída pela sociedade e esta a sustenta regularmente, mantendo a auto-imagem da pessoa sobre si mesma. Caso o reconhecimento da identidade da pessoa seja retirada abruptamente ela terá uma radical mudança de sua   concepção em relação a si mesmo.

      “O ‘eu’ deixa de ser uma entidade objetiva, sólida, que se transfere de uma situação para outra. Será um processo, criado e recriado continuamente em cada situação social de que uma pessoa participa, mantido coeso pelo tênue fio da memória.” (p. 120)

      “A capacidade de transformação da personalidade depende não só do contexto social, como também do grau de seu hábito a identidade anteriores e talvez também de certos traços genéticos.” (p. 120).

      Para as pessoas consideradas “normais” há fortes pressões da sociedade para que sejam coerentes nos papéis que desempenham e nas suas identidades. Essas pressões são externas e internas. “Toda estrutura social seleciona as pessoas de que necessita para seu funcionamento e elimina aquelas que de uma maneira ou de outra não servem.” (p. 124). Portanto por meio de mecanismos de socialização e de formação a sociedade manipula a pessoa de que necessita para funcionar.

      Existe uma ideologia quando determinada idéia atende aos interesses da sociedade. Geralmente as ideologias destorcem a realidade social com o objetivo de mostrar o que lhe interessa. O pensamento ideológico consegue abranger coletividades humanas muito bem maiores. ” A ideologia marxista, por sua vez, serve para legitimar a tirania praticada pela máquina do Partido Comunista, cujos interesses estão para os de Karl Marx assim como os de Elmer Gentry estavam para os do Apóstolo Paulo.” (p. 126).

       “O esforço moral necessário para mentir deliberadamente está além da maioria das pessoas. É muito mais fácil iludir a si próprio. Por conseguinte, é importante distinguir o conceito de ideologia dos conceitos de mentira, fraude, propaganda ou prestidigitação. O mentiroso, por definição, sabe que está mentindo: O ideólogo, não”. (p. 127)

      Observamos que a sociedade modela nossa identidade, controla nossos movimentos, nossos sentimentos e nossas emoções. A nossa consciência se estrutura baseada nas estruturas da sociedade. Somos penetrados e envolvidos pela sociedade, ao tempo que nos esmaga e aprisiona.

 

Referência

PETER, Berger. A Perspectiva Sociológica – O Homem na Sociedade. A Sociedade no Homem.